Nada...
Uma noite dessas, como de costume, resolvi escrever algumas palavras; refletir sobre alguma coisa que me viesse à cabeça. Então me sentei em minha poltrona de couro favorita, na varanda de minha casa, em frente a um mar maravilhoso. Ao fundo, uma melodia suave, daquelas que acalmam a alma e tranquilizam o coração; além é claro, do meu inseparável caderno de notas. Um clima muito apropriado para se escrever algo, não é?
Que nada! Não sei que diabos aconteceu comigo naquela noite. Minha mente parecia tão desprovida de todos e quaisquer pensamentos, que em certos momentos sentia como se a brisa vinda do mar fizesse ressonância dentro da minha cabeça.Tentei escrever sobre as pessoas, o tempo, sobre tudo e até sobre o nada. E nada! Nada permanecia mais do que dois segundos naquela cabeça oca. E eu continuava ali sentado, com algumas folhas de papel nas mãos, esperando um milagre...
Inspiração. Palavra que naquele momento parecia nunca ter existido em todas as minhas vidas possíveis. Sentia-me como se ela tivesse me abandonado para sempre. E justo ali, na varanda da minha casa, em frente ao mar. Um mar que parecia namorar a lua e as estrelas daquele céu todas as noites. Acho que nunca mais vou me esquecer daquela noite; a noite em que minha inspiração me disse adeus.
Leomir Santana
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Efêmero
Sons, imagens, carros e sapatos,
Sentimento puro de atração.
Sociedade de consumo,
Louca lógica sem razão.
Sob a batuta do efêmero,
O novo vem para seduzir.
E consumidos pelo agora,
Sem demora, sem sentir.
Desejos vem e se renovam,
Num sonho louco e passageiro.
Nossos sentidos nos enganam,
Sou teu carrasco e prisioneiro.
Apenas fruto do consumo,
Amigo, amante do banal.
Buscamos sempre o inusitado,
Somos indústria cultural.
Será que estou alienado?
Não me importo, e sou feliz,
Pois esse império me absorve,
Do jeito que eu sempre quis.
Leomir Santana
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Simplicidade
Nas paredes das cavernas, em papiros ou na areia da praia, desde sempre procuramos um local, um lugar onde expor nossas idéias, registrar nossa história e eternizar os nossos sonhos. Surgido há muito tempo, o papel sobrevive até hoje. Segundo os nossos queridos dicionários, o papel é uma folha seca, fina e flexível, obtida pela mistura de substâncias vegetais, reduzidas à pasta, e que se emprega para escrever, embrulhar, etc. Mas, sabemos que não é só isso, nem poderia ser.
A magia deste objeto encontra-se em sua simplicidade e sensibilidade, que atravessam gerações sem muito sacrifício. Uma folha de papel é bem mais que uma simples folha de papel. Ela trás consigo o poder de proteger sentimentos e armazenar sonhos. Ela é um sítio onde podem ser depositadas idéias e obras primas, provindas de mentes geniais como Machado e Graciliano, por exemplo. Possui a capacidade de fazer o intermédio entre a mente do artista e o coração dos leitores.
Diga-me o que seria, por exemplo, da nossa boa e velha caneta, sem seu lugar favorito; sem o lugar por onde através dela, este que vos escreve nesse momento, depositaria suas idéias e sentimentos, para que possam ser vistos e notados por todos aqueles que assim o desejassem? Sei que meus argumentos podem não te convencer de que uma sucinta folha de papel é bem mais do que aparenta ser. Mas, tente vê-la com outros olhos, de um outro ponto de vista.
Talvez você esteja lendo estas palavras através da tela de seu computador, ou quem sabe até, ouvindo-as com o seu novíssimo aparelho de MP6, ou MP sei lá o quê, mas quem sabe, em algum lugar, alguém esteja lendo estas palavras através de uma simples folha de papel, portadora de infinitos sentimentos até o último ponto.
A magia deste objeto encontra-se em sua simplicidade e sensibilidade, que atravessam gerações sem muito sacrifício. Uma folha de papel é bem mais que uma simples folha de papel. Ela trás consigo o poder de proteger sentimentos e armazenar sonhos. Ela é um sítio onde podem ser depositadas idéias e obras primas, provindas de mentes geniais como Machado e Graciliano, por exemplo. Possui a capacidade de fazer o intermédio entre a mente do artista e o coração dos leitores.
Diga-me o que seria, por exemplo, da nossa boa e velha caneta, sem seu lugar favorito; sem o lugar por onde através dela, este que vos escreve nesse momento, depositaria suas idéias e sentimentos, para que possam ser vistos e notados por todos aqueles que assim o desejassem? Sei que meus argumentos podem não te convencer de que uma sucinta folha de papel é bem mais do que aparenta ser. Mas, tente vê-la com outros olhos, de um outro ponto de vista.
Talvez você esteja lendo estas palavras através da tela de seu computador, ou quem sabe até, ouvindo-as com o seu novíssimo aparelho de MP6, ou MP sei lá o quê, mas quem sabe, em algum lugar, alguém esteja lendo estas palavras através de uma simples folha de papel, portadora de infinitos sentimentos até o último ponto.
Leomir Santana
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Segregados
Sociedade excluída,
segregados homens são.
Por escolha e por vontade?
Talvez "mera imposição".
A minha pele negra expele a dor passada,
presente no coração.
Em minhas lágrimas cor de sangue,
o sofrimento de uma nação.
Sou descendente de Palmares.
Eu sou um povo sofredor.
A minha voz silenciada,
pelo meu grito de dor.
Sou filho, neto, pai e amigo,
não desisto de lutar!
Sou filho, neto, pai e amigo,
não me canso de falar!
Somos todos segregados,
todos somos humilhados.
Sociedade oprimida,
nessa luta pela vida.
Vida louca, sem sentido,
ser humano afligido.
Tua força vem de dentro,
sua vida, seu lamento!
Leomir Santana
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O HOMEM QUE SABE TUDO
Ouvi dizer que lá para as bandas de não sei onde, perto de lugar nenhum, mora um homem que sabe e adivinha tudo. É isso mesmo. Tudo que podemos imaginar. Me contaram que ele sabe quantas estrelas há no céu, e quantos grãos de areia formam o deserto do Saara. Neste momento ele sabe o quê, e porque estou escrevendo essas palavras, sentado aqui, na poltrona deste ônibus. O bendito homem sabe até o que você, caro leitor, está pensando e fazendo nesse momento em que lê o meu relato.
Talvez você esteja pensando, “é impossível”, mas nada disso importa no momento. O que importa é que ele adivinha tudo. Tudo mesmo. Talvez você esteja querendo saber quem é, e onde mora o tal homem. Eu também fiquei morrendo de curiosidade para descobrir tudo sobre ele. Dizem que ele conhece tudo e todos, sem nunca ter ido um só dia da sua vida à escola ou qualquer faculdade. Mas como é possível um homem que mora lá para as bandas de não sei onde, perto de lugar nenhum, que nunca foi à escola, saber de tantas coisas assim? Não se preocupe amável leitor. Ao contrário de você, que está aí, sentado no sofá de casa, no banheiro, ou em qualquer outro lugar, lendo este texto, eu resolvi procurá-lo.
Assim que ouvi essa história, um sentimento de curiosidade mórbida me tomou o coração e a alma. Acho que você também ficou curioso não? Tenho quase certeza que sim. O que você faria se o encontrasse agora? O que lhe perguntaria? Primeiramente eu pensei em lhe pedir que me ensinasse tudo que ele sabe. Comprei a passagem e ... Aqui estou nessa poltrona de um ônibus que vai lá para as bandas de não sei onde, perto de lugar nenhum, viajando a mais de três horas. Mas depois de ter refletido muito, resolvi que não vou mais procurá-lo. Sim senhor. Não vou mais atrás desse bendito homem, e o motivo pelo qual não vou mais procurá-lo é muito simples. Sendo ele o homem que sabe tudo, então com certeza ele sabe quais são as minhas reais intenções em tentar achá-lo. Então, talvez ele nem me receba. Talvez mude de cidade, de país ou de planeta, se possível.
Desse modo cheguei à conclusão de que, se as minhas intenções não fossem as que são agora, com certeza ele me receberia de braços abertos, mas hoje sei que não o faria. Acho que esse homem deve ser muito humilde e muito feliz, pois, só quem é muito sábio compreende que a felicidade está nas pequenas coisas da vida.
Leomir Santana